ComprasSP Entrevistada - Lina Amaral UNICAMP

Compras SP Entrevista
Contexto

Em março de 2023, recordo-me, pude conhecer presencialmente a Universidade Estadual de Campinas pela primeira vez. Ia a convite de Lina Nakata, diretora geral de administração, para fins de proferir palestra sobre a Nova Lei de Licitações.

Cheguei em Campinas pela manhã e, antes do almoço, já estava retornando à cidade de São Paulo. Aprendi mais que ensinei e saí impactado por aquilo que vi.

A Unicamp é uma cidade. Ou melhor, é maior que 70% dos municípios do Brasil, arrisco-me, sem compromisso com a exatidão dos números. Possui diversos campi, hospitais, centros de pesquisa, milhares e milhares de pessoas circunscritas às fronteiras organizacionais e um orçamento bastante significativo.

O desafio de implantação de um novo regime licitatório é proeminente em qualquer órgão ou entidade pública. Aqui, contudo, estamos falando de uma única organização que tem o tamanho – como já dito – de uma cidade.

Acompanho, desde então, com maior proximidade os desafios e os avanços da Unicamp nessa empreitada, na condução de lavra da Diretoria Geral de Administração. Aqui, não me arrisco em nada ao estatuir que a Unicamp desponta como um celeiro de melhores práticas de governança em contratações públicas. Sim, é um case a ser estudado, conhecido, disseminado.

Não é por acaso, dessarte, que Lina Nakata inaugura a série ComprasSP.entrevista. Suas palavras são sobremaneira reais. Espelham percepções de quem, na linha de frente, e com uma equipe hiper comprometida, “corta mato” e avança em terrenos pouco conhecidos nesse grau de performance. E, mais a mais, fazem jus à Unicamp que recém completou 58 anos de uma rica história.

Boa leitura!

Renato Fenili

Compras SP Entrevista

Conheça a entrevistada

Lina Amaral Nakata

Graduada em Estatística pela Unicamp e em Psicologia pela PUC Campinas, com especialização em Gestão Estratégica de Pessoas pelo INPG Business School, em Desenvolvimento Gerencial pela Unicamp e Licitações e Contratos Administrativos pela Escola Mineira de Direito (EMD).

Possui formação em Black Belt como extensão universitária pela Unicamp.

Servidora pública há mais de 20 anos, atualmente designada como Diretora Geral de Administração da UNICAMP. Experiência com gerenciamento de pessoas, gestão de equipes multidisciplinares, coordenação de projetos de melhoria, planejamento e indicadores de resultados, planejamento estratégico e contratações públicas.

Entrevista

Entrevistada - Lina Amaral Nakata

Eu que agradeço pela oportunidade única e privilégio que a Secretaria de Gestão do Estado, em conceder espaço para contar alguns desafios da Unicamp.

O orçamento total da Unicamp em 2024 foi de aproximadamente R$ 4,5 Bi:

  • R$ 3,5 Bi – Recursos Orçamentários
  • R$ 970 mi – Recursos Extraorçamentários

As compras públicas na Universidade precisam prover ensino, pesquisa, extensão e assistência:

  • 24 Unidades de Ensino e Pesquisa
  • 4 Hospitais
  • 1 Centro de Saúde da Comunidade
  • 21 Centros e Núcleos Interdisciplinares
  • 2 Colégios Técnicos
  • 30 Bibliotecas

Com uma média anual aproximada de

  • 11.000 compras
  • 1.500 pregões
  • 950 contratos vigentes
  • 1.400 atas de registro de preços vigentes

A Diretoria Geral de Administração (DGA) faz a gestão das funções administrativas da Cadeia de Suprimentos e Contábil/Financeira da Universidade, completa 55 anos no dia 10 de outubro, alguns dias depois do aniversário da Unicamp, que completou 58 anos no último dia 05.

A DGA traz em seu DNA a preocupação com a qualidade, com a ética, com a lisura, sem deixar de almejar melhorias e inovações, dentro do absoluto cumprimento da legislação.

A preocupação e cuidado com o uso dos recursos públicos é muito presente no direcionamento das condutas dos nossos servidores técnicos e gestores.

Entendo que o compromisso da DGA com a busca pelo melhor para o interesse público impulsiona naturalmente a preocupação com alta performance.

Esta cultura já existe, porém para a concretude de resultados de alta performance, precisamos investir em inovações, novas tecnologias, automações, aperfeiçoamento dos processos.

Aprendemos diariamente, pois o processo de implementação da 14.133/21 tem sido muito mais complexo, imprevisível e difícil que imaginamos.

Destaco algumas lições:

  • Importância de conhecer experiências de outras instituições, busque aprender com quem já fez;
  • Envolvimento, apoio e comprometimento da Alta Administração com a Governança tem sido essencial;
  • Planejar cuidadosamente os 4 eixos: Regulamentação, Pessoas, Sistemas e Estrutura – orientações da SEGES, da época em que você atuava no Governo Federal;
  • Alto investimento em capacitação, de forma permanente;
  • O desconhecimento acentua o medo de responsabilização e paralisa de certa forma a Universidade, pois realizamos um volume expressivamente menor de compras em relação aos anos anteriores;
  • A implantação da NLLC deve ser um processo de construção coletiva, acolhendo a diversidade e pluralidade de competências e responsabilidades existentes nas instituições. No nosso caso, por profissionais nas mais diversas áreas da DGA, com tempos de experiência distintos (cadeia de suprimentos, cadeia orçamentária/financeira, TI, RH, Escritório de Planejamento e Projetos, Controle Interno), representantes da Procuradoria Geral, dos Órgãos Técnicos e da Administração Superior;
  • PCA – Plano de Contratações Anual – é uma ferramenta absolutamente necessária para o melhor atendimento do Interesse Público, mas muito difícil de ser implementado adequadamente, sem que a cultura do planejamento esteja consolidada;
  • Não é funcional adotar integralmente regulamentações e modelos de outras instituições, sem a devida análise crítica à luz da própria realidade;
  • Nessa fase inicial, as regulamentações precisam ser constantemente revistas e adequadas considerando dificuldades, falhas percebidas ao longo do percurso;
  • Apesar do atual cenário de insegurança jurídica, não devemos priorizar o formalismo processual em detrimento ao atendimento do interesse público. Não é possível implementar mudança sem tomar decisões e assumir riscos;
  • Não basta implementar a centralização das áreas de compras, é necessário estruturar áreas técnicas centralizadas e/ou comissões responsáveis pela fase preparatória das contratações comuns.
  • Executar aquilo que consta em um regramento jurídico novo tem sido muito difícil. A implementação do que foi definido e idealizado pelo legislador, nem sempre condiz com o que enfrentamos no dia a dia, seja pelas particularidades e especificidades, como pelo fato de que muitas dificuldades são conhecidas apenas na operacionalização. Com isso, a necessidade de rever processos, redefinir estratégias e tomar decisões rápidas é contínua.

Envolvimento da Alta Administração, capacitação dos servidores, comunicação e foco no interesse Público.

  • O parágrafo único do artigo 11 deve ser um norteador para qualquer instituição. Sem o patrocínio, compromisso e envolvimento da Alta Administração com a governança das contratações, não vejo como implementar a NLL de forma adequada.
  • O investimento intenso em capacitação é indispensável. A capacitação dos nossos gestores e equipes possibilitou subsídio consistente para:
    • Tomada de decisões pela Alta Administração acerca do direcionamento da Governança;
    • Elaboração da nossa regulamentação e dos nossos modelos padronizados;
    • Implementação de centralização de compras e PCA.

                 A Unicamp realizou quase 3.000 horas em capacitações sobre a Lei nº 14.133/21, com mais de 7.000 participações:

    • Cursos Externos (pagos e gratuitos) – 2.520 horas com 1.678 participações
    • Cursos In Company – 144 horas com 1.275 participações
    • Ministrados pela própria DGA (multiplicação): 100 horas com 4.212 participações

               Considerando a carga horária e quantidade de participantes por evento, a Unicamp possibilitou a dedicação total de 58.000 horas de trabalho para ações de capacitação.

  • Comunicação e diálogo, com a multiplicação de conhecimento como tática (estratégia).

Além dos eventos de capacitação, a DGA realizou divulgações em redes sociais (Grupos de whatsapp, Instagram, Linkedin, One Page específica sobre a Lei 14133/21), disponibilizados para a Comunidade Universitária, mas também para outros Órgãos externos, como Polícia Militar do Estado de São Paulo, USP, UNESP, HC Botucatu Unesp, em um processo muito rico de troca de experiências e compartilhamento de conhecimento.

  • A reflexão constante sobre o que é melhor para interesse público, tem direcionado as decisões para a implementação da nova legislação na Universidade.

Saímos de 44 áreas de compras pulverizadas, para apenas uma, sob a responsabilidade da DGA desde 02/01/24. Temos o desafio de subsidiar pilares essenciais para a população: Saúde e Educação.

As licitações das Unidades de Ensino e Órgãos da Reitoria são centralizadas na DGA há mais de 20 anos. Na área da Saúde, existiam mais 3 áreas de compras com competência para realização de licitação, que também foram incorporadas na centralização.

O pregão é centralizado na DGA desde 2006.

O primeiro desafio foi estruturar as equipes e gerentes, administrar e mediar relevantes diferenças culturais, de valores, de experiências, visto que foram compostas por servidores da DGA, dos Hospitais, das Unidades de Ensino; e novos contratados por concurso público.

A cultura de planejamento de contratação pública não era uma prática consolidada na Universidade, o que torna a implantação da centralização um processo extremamente complexo. O volume de demandas de baixo valor é alto e sempre foi tratado individualmente, por cada Unidade de Ensino, no processo de autonomia de gestão.

Um ponto crítico enfrentado no dia a dia deste início da centralização é que a maior parte das demandas de baixo valor tem chegado sem vinculação ao PCA 2024, comprometendo o cronograma de compras, além de riscos para a eficiência e a celeridade dos processos.

A realização da fase preparatória tem sido difícil e morosa, dada a inexperiência com o novo regramento, e receio com a responsabilização por parte dos gestores e técnicos.

Estamos vivendo coletivamente um processo árduo de aprendizado com as áreas técnicas e demandantes, para planejar, flexibilizar, negociar para a definição dos requisitos das contratações semelhantes, que atendem a vários interessados. Uma mudança de paradigma que requer pensar em soluções comuns, que tragam o melhor para a Universidade como um todo e não apenas localmente.

A instabilidade e mudanças é outro ponto enfrentado cotidianamente no processo de centralização. Durante esse ano, tivemos que rever nossas regulamentações e modelos padronizados, assumimos riscos por flexibilizar a formalidade de alguns processos para não comprometer o abastecimento da Universidade.

Buscamos diariamente o equilíbrio entre a adequada formalização (com estrito cumprimento do que foi idealizado pelo legislador) e o atendimento do interesse público, em especial no contexto da Unicamp, uma estrutura complexa, com volumes expressivos, com características muito variadas, características de uma Instituição maior que a maioria dos municípios do País.

Saímos de 44 áreas de compras pulverizadas, para apenas uma, sob a responsabilidade da DGA desde 02/01/24. Temos o desafio de subsidiar pilares essenciais para a população: Saúde e Educação.

As licitações das Unidades de Ensino e Órgãos da Reitoria são centralizadas na DGA há mais de 20 anos. Na área da Saúde, existiam mais 3 áreas de compras com competência para realização de licitação, que também foram incorporadas na centralização.

O pregão é centralizado na DGA desde 2006.

O primeiro desafio foi estruturar as equipes e gerentes, administrar e mediar relevantes diferenças culturais, de valores, de experiências, visto que foram compostas por servidores da DGA, dos Hospitais, das Unidades de Ensino; e novos contratados por concurso público.

A cultura de planejamento de contratação pública não era uma prática consolidada na Universidade, o que torna a implantação da centralização um processo extremamente complexo. O volume de demandas de baixo valor é alto e sempre foi tratado individualmente, por cada Unidade de Ensino, no processo de autonomia de gestão.

Um ponto crítico enfrentado no dia a dia deste início da centralização é que a maior parte das demandas de baixo valor tem chegado sem vinculação ao PCA 2024, comprometendo o cronograma de compras, além de riscos para a eficiência e a celeridade dos processos.

A realização da fase preparatória tem sido difícil e morosa, dada a inexperiência com o novo regramento, e receio com a responsabilização por parte dos gestores e técnicos.

Estamos vivendo coletivamente um processo árduo de aprendizado com as áreas técnicas e demandantes, para planejar, flexibilizar, negociar para a definição dos requisitos das contratações semelhantes, que atendem a vários interessados. Uma mudança de paradigma que requer pensar em soluções comuns, que tragam o melhor para a Universidade como um todo e não apenas localmente.

A instabilidade e mudanças é outro ponto enfrentado cotidianamente no processo de centralização. Durante esse ano, tivemos que rever nossas regulamentações e modelos padronizados, assumimos riscos por flexibilizar a formalidade de alguns processos para não comprometer o abastecimento da Universidade.

Buscamos diariamente o equilíbrio entre a adequada formalização (com estrito cumprimento do que foi idealizado pelo legislador) e o atendimento do interesse público, em especial no contexto da Unicamp, uma estrutura complexa, com volumes expressivos, com características muito variadas, características de uma Instituição maior que a maioria dos municípios do País.

A DGA atua com gestão e desenvolvimento de competências desde 1994 com a criação da Assessoria de Desenvolvimento de Pessoal (ADP) e vem evoluindo ao logo dos últimos 30 anos.

Este trabalho reflete diretamente nas contratações públicas e vai ao encontro da diretriz de gestão de competências trazido pela Lei nº 14.133/21.

Desde 1996, os gerentes da DGA são acompanhados pela equipe de psicologia. Desde 1997 as pessoas indicadas para cargos gratificados, passam por um processo de avaliação de perfil e seleção.

Estes processos foram aprimorados ao longo dos anos.

O acompanhemos gerencial compreende atendimentos individuais e atividades de compartilhamento e aprendizado em grupo. Ambos pela equipe de psicologia da DGA.

Para análise e identificação de potencial, realizamos um ciclo por ano. Cada turma é formada por servidores indicados pelas Diretorias das áreas de negócio, por se destacarem com desempenho diferenciado. Os servidores que passam por este processo fazem parte de um “Banco de Talentos” e precisam cumprir um Plano de Desenvolvimento Individual (PDI), que é acompanhado pela equipe de psicologia, pelo período de um ano. O maior objetivo do programa é identificar potenciais para cargos gratificados, mas também para remanejamentos internos que visam aproveitar melhor as competências.

Os servidores indicados para o cargo de pregoeiro passam pelo mesmo processo de avaliação de perfil e acompanhamento de desenvolvimento individual. O cargo gratificado de Pregoeiro foi criado em 2006, quando instituída a Central de Pregões na Unicamp.

Trabalhamos com um” Mapeamento da Força de Trabalho” que contém a descrição de todos os postos de trabalho da DGA e identificação de competência técnicas e comportamentais necessárias, com a identificação da diferença entre o estágio de desenvolvimento dos servidores e o esperado para a função.

Atualmente existe um trabalho semelhante conduzido e aplicado pela Diretoria Geral de Recursos Humanos (DGRH) no âmbito de toda Universidade.

Em face da sua dimensão e complexidade, a Unicamp pode ser um laboratório para inovações em contratações públicas.

A Universidade teria todo interesse em firmar uma parceria com a SGGD, seja para o aperfeiçoamento dos processos de contratação da Universidade, como para implementação de projetos, pesquisas e inovações em Contratações Públicas com possibilidade de aplicação do conhecimento acadêmico produzido na própria Universidade.

Um exemplo concreto de aplicação do conhecimento acadêmico, foi a realização da priorização das demandas do PCA a partir do Método Multicritério de Apoio à Decisão (MCDA). O modelo foi construído por uma aluna de mestrado do curso de Engenharia da Produção da Faculdade de Ciências Aplicadas em parceria com a DGA.

Entendo que um primeiro grande desafio foi vencido, tendo em vista que o Estado de São Paulo foi recentemente avaliado como o maior IMIL – Índice de Maturidade na Implementação da Lei de Licitações entre os estados, juntamente com Goiás.

Assim como na Universidade, entendo que o Estado enfrenta o desafio de romper barreiras culturais para implementação de novos paradigmas para as contratações públicas.

Do ponto de vista técnico, vislumbro outros desafios como catálogo de padronização, adequação/compatibilização do Catálogo da BEC/SP com o Catálogo CADMAT/Federal, busca por integrações e automatizações para troca de informações com demais Sistemas do Estado, como SIAFEM, AUDESP, FARO, dentre outros.

A implementação de novas práticas como Almoxarifado Virtual, Marketplace, pelo Estado de São Paulo, servirá de modelo e deve mobilizar, dar referências e maior segurança para que os demais entes também se arrisquem e busquem inovações em contratações.